sábado, 14 de abril de 2012

“Leito da morte”

Sindicância investiga “leito da morte” em UTI de Brasília

O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal informou ontem que vai abrir uma sindicância para investigar a morte de 13 pacientes que ocuparam um mesmo leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional de Santa Maria. As mortes ocorreram desde janeiro, segundo documentos e funcionários do hospital.
A razão teria sido a troca no tubo de oxigênio pelo de ar comprimido. Segundo relatório do próprio hospital, um dos documentos afirma que “a tubulação do leito 19 foi invertida”. A UTI onde as mortes ocorreram foi construída durante uma ampliação feita no hospital, em julho de 2011.
Os nomes dos 13 pacientes que morreram, segundo enfermeiros, está em um outro documento, no qual um diretor da unidade pedia o levantamento da causa das mortes
Em janeiro, a equipe técnica da UTI enviou uma carta à direção do hospital informando sobre a troca dos tubos. Naquele momento, a equipe identificou cinco mortes.
“Diante desta situação relatada fomos investigar as mortes ocorridas e temos a certeza de que as cinco mortes no leito 19 se deram por tal situação”, dizia o documento. Desde essa data, mais oito pacientes teriam morrido pela mesma causa.
Segundo o documento, a Secretaria da Saúde não executou “quaisquer serviços de ampliação e/ou manutenção nessas instalações” e a obra ficou a cargo de uma empresa privada.
Diretor do hospital, Ivan Rodrigues chegou a levar a informação à secretaria, mas segundo ele nada foi feito. “A causa das mortes foi a troca das tubulações”, afirmou. Rodrigues é alvo de processo administrativo e, diz a pasta, foi exonerado do cargo ontem.
A pasta afirmou que vários pacientes internados no leito não tiveram problemas. A pasta disse ter conhecimento de cinco mortes, nenhuma delas devido aos tubos.

Anencefalia


SUS terá novos hospitais para aborto
O Brasil tem 65 estabelecimentos qualificados para fazer interrupções legais de gravidez, nenhum deles no Paraná. Até dezembro serão mais 30.
O Ministro da Saúde, Ale­xandre Padilha, informou ontem que o Sistema Único de Saúde (SUS) vai ampliar a quantidade de hospitais capacitados para fazer abortos legais, incluindo os casos de fetos com anencefalia (malformação do cérebro). “Hoje temos 65 hospitais credenciados pelo Ministério da Saúde para fazer o aborto legal, ou seja, que a Justiça autoriza. E temos mais 30 hospitais sendo qualificados para isso. Nossa meta é que, até o fim do ano, tenhamos 95 hospitais preparados em todo o país para esse serviço.”
Na quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por 8 votos a 2, que as mulheres têm o direito de interromper a gravidez quando o feto apresentar anencefalia. Padilha lembrou que a Rede Cegonha, programa do governo federal de atenção a gestantes e bebês, vai contribuir para identificar esses casos durante o pré-natal e diminuir riscos para as mães. Para a maioria do plenário do STF, obrigar a gestante a manter a gravidez diante do diagnóstico implica em risco à saúde física e psicológica da mulher.
Os hospitais que já realizavam interrupções de gravidez em casos de estupro e risco à vida da mãe passarão também a receber grávidas de fetos sem cérebro que optaram pelo aborto com assistência médica.
Paraná
Em evento sobre o combate ao crack, na zona sul do Rio de Janeiro, Padilha disse que Paraná e Roraima são os únicos estados que não apresentam hospitais credenciados para o aborto legal e afirmou que eles serão contemplados até o fim do ano. Segundo a assessoria de imprensa do ministério, ainda não há uma estimativa de quantas unidades serão capacitadas em cada estado.
A falta de estabelecimentos qualificados não impede, porém, que o procedimento seja feito no Paraná. O Ministério da Saúde afirmou que o aborto corresponde a um procedimento cirúrgico simples e que qualquer hospital do SUS está apto a realizá-lo. “O gestor local, que é a Secretaria Estadual de Saúde, é que terá de dar suporte, já que o aborto de fetos anencéfalos está previsto em lei”, explicou a assessoria. A diferença é que o procedimento não será realizado em um hospital qualificado, no qual deve existir pelo menos um assistente social e um psicólogo.
Segundo a Secretaria de Saúde do Paraná, enquanto não existir uma unidade qualificada a paciente será encaminhada para um dos hospitais do estado.

Diagnóstico
Conselho Federal de Medicina vai definir critérios de anencefalia
Uma comissão especial foi criada ontem pelo Conselho Federal de Medicina para estabelecer em 60 dias os critérios para o diagnóstico de anencefalia. A decisão foi tomada pelo plenário da entidade após a decisão do STF que liberou a interrupção de gestações de fetos anencéfalos.
Farão parte da comissão representantes do próprio conselho, das sociedades médicas de pediatria, neurologia, ginecologia e obstetrícia, do Ministério da Saúde, e especialistas em ultrassonografia fetal. Também poderão dar suas contribuições especialistas de algumas das principais universidades e escolas médicas do país.
Com o estabelecimento desses critérios, os médicos terão mais segurança para o diagnóstico desses casos, segundo o conselho, facilitando a interrupção mais precoce de gestações quando as mulheres decidirem por isso. “Os médicos – por meio de seus representantes – têm o dever de dar à sociedade a mais completa segurança para que as decisões sejam tomadas com base em critérios éticos, técnicos e científicos”, ressaltou o presidente do conselho, Roberto Luiz d’Avila.
Também ontem o conselho divulgou nota manifestando apoio à decisão do STF. No documento, a entidade ressalta que, em situações em que se comprova o diagnóstico de anencefalia, a chamada antecipação terapêutica do parto não deve entendida como uma obrigação da mulher, mas como um direito.
Folhapress

“É como descartar um ser humano, diz CNBB”
A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota ontem em que “lamenta profundamente” a decisão do STF liberando o aborto de fetos anencéfalos. “Legalizar o aborto de fetos com anencefalia, erroneamente diagnosticados como mortos cerebrais, é descartar um ser humano frágil e indefeso. A ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente não aceita exceções”, diz a nota.
Para a entidade, o Supremo legislou no lugar do Congresso Nacional. Na nota, a CNBB ainda se defendeu de críticas ao dizer que defende seu ponto de vista também com argumentos jurídicos e científicos. “Exclui-se, portanto, qualquer argumentação que afirme tratar-se de ingerência da religião no Estado laico.”
Folhapress

fonte: G.P

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Hospital Militar

Pesquisa aponta piora na situação do Hospital Militar

Desde que a unidade passou a atender todos os funcionários públicos do Paraná, além de policiais e bombeiros, o serviço teria decaído
 Os policiais militares do Pa­­ra­­ná, atendidos no Hospital da Polícia Militar (HPM), em Curitiba, reclamam da pre­­ca­­riedade do centro médico. A unidade, que passou a fazer consultas em outubro do ano passado também para os demais funcionários pú­­blicos, estaria sem condições de atender tantas pessoas. Uma pesquisa feita pela Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares (Amai), entre os dias 19 e 26 de março deste ano com mil policiais e bombeiros, mostra que 87% dos ouvidos consideram que o atendimento piorou desde o mês de outubro. Funcionários públicos civis, que são os novos pacientes, também estão descontentes.
Em outubro, cerca de 120 mil servidores públicos do Paraná, que dependem de convênios do Sistema de As­­sistência à Saúde (SAS), passaram a ser atendidos no HPM junto com outros 40 mil policiais e bombeiros da região. O hospital, que passava por crise na administração e com a falta de médicos, começou a ter investimentos do Estado para receber os novos usuários. Os problemas, entretanto, só aumentaram, segundo os entrevistados.
A pesquisa mostra que 47% dos militares consideram péssima a evolução dos serviços prestados no centro médico desde o início do convênio. Apenas 1% acreditam que a condição é ótima. Quanto ao agendamento da consulta, por um canal 0800, a principal insatisfação ocorre por causa da demora para ser atendido: uma parte (31%) disse ter dificuldade para agendar a consulta e outros 33% não conseguiram finalizar a ligação. Além disso, 94% dos militares são contra a continuidade do convênio.
Descontentamento
O subtenente da Polícia Militar Edson Bindi já tentou consultas para ele e para o filho que faz tratamento especializado. A demora, porém, o fez buscar clínicas particulares. “No hospital eles não marcam consultas, dizem que isso é apenas pelo telefone. Mas o número não funciona, sempre está indisponível.” O militar também reclama da quantidade limitada de consultas para cada médico, o que piora a situação.
Do lado dos servidores civis as reclamações são as mesmas. Vanessa Cardeal Oganauskas Roseno, que usa o HPM por ser dependente do marido que é funcionário público, reclama da demora na marcação e realização de exames. Diz ainda que faltam equipamentos no pronto-socorro. “Nem tem como avaliar o trabalho deles, porque eles também são vítimas disso tudo”, aponta.
O coronel Eliseu Ferraz Furkin, presidente da Amai, afirmou que a crise do hospital é antiga. O corte do repasse de verba ao antigo Instituto de Previdência do Estado, na época do governo de Jaime Lerner (1995-2002), prejudicou também o atendimento no HPM. O problema se arrastou durante a gestão dos outros governadores. “Antes tínhamos uma situação precária para os militares. Agora temos as mesmas dificuldades para 120 mil funcionários públicos.”
Furkin disse que a pesquisa deve servir como parâmetro para que o convênio seja repensado ou denunciado. O convênio termina no final desse mês.
A pesquisa mostra que 47% dos militares consideram péssima a evolução dos serviços prestados no centro médico desde o início do convênio. Apenas 1% acreditam que a condição é ótima. Quanto ao agendamento da consulta, por um canal 0800, a principal insatisfação ocorre por causa da demora para ser atendido: uma parte (31%) disse ter dificuldade para agendar a consulta e outros 33% não conseguiram finalizar a ligação. Além disso, 94% dos militares são contra a continuidade do convênio.
O outro lado
Superintendente diz que unidade antes só usava 15% da capacidade
As críticas apontadas pela pesquisa da Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares (Amai) não condizem com a realidade do atendimento do Hospital da Polícia Militar (HPM), segundo o superintendente do Sistema de Assistência à Saúde (SAS), José Fernando Macedo. Ele destaca que o governo investiu, desde outubro de 2011, cerca de R$ 10 milhões para a melhoria do atendimento na unidade, que antes do convênio funcionava com apenas 15% da capacidade. “Os próprios militares reclamavam do atendimento e procuravam consultas em outros hospitais”, argumenta.
Macedo também rebateu críticas dos funcionários públicos civis, da mesma maneira insatisfeitos com a situação. Segundo ele, os investimentos em melhoria da estrutura do centro médico e na qualificação dos funcionários têm sido elogiados pelos usuários do HPM. “O retorno que temos em ligações e e-mails é de satisfação com o atendimento.”
Macedo ainda afirma que o governo do Paraná pretende fazer mudanças no sistema de saúde para dar melhor atendimento aos servidores. Uma delas é a criação de uma contribuição estadual para a saúde por parte dos funcionários. Segundo Macedo, no Paraná não há um fundo com cobrança de taxa dos servidores para garantir melhorias na área. “O imposto que todos pagamos vai para o SUS, não para o estado do Paraná. A saúde é uma área cara e o servidor precisa dar uma contrapartida. Já conversamos com todos os sindicatos e eles estão de acordo com essa posição”, diz. (RB)
Fonte:G.P

Hospital de Clínicas

Vagas ociosas em hospitais universitários chegam a 13%
Falta de verbas e de funcionários seriam as causas de leitos vazios no atendimento de alta complexidade
Os 46 hospitais universitários federais do país ainda são subaproveitados, com 13% dos leitos vazios. A conclusão resulta do levantamento da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que mostra que na última década 1,5 mil dos 11.488 leitos foram fechados por falta de verbas e de funcionários. Para a Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), os leitos vazios somam 1.188. Segundo a associação, a maior parte dessas vagas ociosas está no atendimento de alta complexidade.
Há mais de uma década os hospitais universitários federais pedem mais recursos ao governo federal. Dois projetos pretendiam resolver o problema: um, com um aporte maior de verbas – o Programa de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf) – e outro com o estabelecimento de uma administração estatal única da rede, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Apesar das iniciativas, os hospitais ainda sofrem com a falta de funcionários e de recursos financeiros.
Aporte
No ano passado, o governo federal destinou, por meio do Rehuf, R$ 5,5 bilhões para todos os 46 hospitais vinculados a 32 universidades federais. Porém, na maioria das instituições o valor foi usado apenas para sanar dívidas antigas. Além disso, quase um terço dos 70.373 funcionários que atuam nas instituições é terceirizado, o que equivale a quase 28 mil trabalhadores. Contudo, o Tribunal de Contas da União (TCU) alerta o MEC desde 2009 que esse tipo de contratação é ilegal.
Por isso, o governo federal fundou a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. “A empresa deverá ser contratada pelos hospitais para administrar as redes e para contratar pessoal por meio de concurso público”, informa o presidente da Comissão de Hospitais Universitários da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Natalino Salgado Filho. No entanto, a empresa teve seu estatuto aprovado no fim do ano passado e ainda não saiu do papel.
De acordo com Salgado Filho, o grande gargalo é a falta de profissionais. Segundo ele, seria necessário um total de aproximadamente 100 mil funcionários – quase 30 mil a mais que o quadro atual – para reestruturar os leitos fechados. “Há anos os hospitais sofrem um processo de sucateamento. O Rehuf está aos poucos dando mais condições financeiras às instituições, mas ainda estamos sem funcionários”, diz. Segundo ele, as consequências atingem toda a população, já que os hospitais universitários atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 70% deles são de alta complexidade. “Sem funcionários não tem como atender os pacientes. Carecemos de políticas que coloquem esses 1,5 mil leitos novamente em operação”, enfatiza.
Hospital de Clínicas
A diretora do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Heda Amarante, que integra o comitê gestor do MEC sobre hospitais universitários, estima que faltam 600 funcionários para viabilizar a reabertura dos 150 leitos fechados na entidade. Segundo ela, há hoje mil servidores terceirizados e 2 mil concursados. “Se esses leitos fossem reabertos, estaríamos com todos os 550 em operação, o que poderia resultar no atendimento de mais mil pacientes por mês”, revela.
Administração centralizada deve ser solução
Na prática, a Empresa Bra­­­sileira de Serviços Hos­­pitalares (EBSERH) não começou a funcionar, mas já é tratada como uma possível solução para os problemas de falta de funcionários nos hospitais públicos federais. “Todas as instituições estão com grave carência de recursos humanos. Essa empresa do estado teria legitimidade para poder contratar mais funcionários via concurso público”, afirma o presidente da Comissão de Hospitais Universitários da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Natalino Sal­­gado Filho, que é reitor da Uni­­versidade Federal do Maranhão.
Ele explica que não se trata de uma terceirização. “É o poder público quem vai coordenar e o atendimento será 100% SUS”, completa. A expectativa é de que com a EBSERH gerindo as instituições o quadro funcional gradativamente seja reposto.
“A gente imagina que essa empresa poderá ser nossa esperança para não termos mais esse tipo de problema”, espera o diretor médico do hospital universitário vinculado à da Universidade Federal de Santa Catarina, Sérgio Duwe. De acordo com o MEC, cada instituição pode optar pela adesão ou não à empresa.
Sem saída
No entanto, como o Tri­­bunal de Contas da União considera ilegal a terceirização de serviços nessas instituições, Salgado Filho acredita que não há outra saída aos hospitais além de aceitar a administração pela empresa do governo federal. “Ou o hospital adere à ESBERH ou vai acabar fechando as portas por falta de mão de obra”, salienta.
Todavia, como a empresa ainda não está efetivamente funcionando, os diretores dos hospitais ainda aguardam que o governo federal possa realizar concurso público para suprir o déficit de servidores. “A gente sabe que o MEC não quer abrir concurso, mas enquanto não existir a empresa nós vamos lutar pelo concurso”, ressalta a diretora do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Heda Amarante.

Financiamento
Valores repassados por programa ainda são insuficientes
Desde a criação do Programa de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), em 2010, o repasse às instituições apresenta evolução. De 2009 até o ano passado o valor cresceu pouco mais de 40% – passando de R$ 3,8 bilhões para R$ 5,4 bilhões. No entanto, o presidente da Comissão de Hospitais Universitários da Andifes, Natalino Salgado Filho, acredita que o ideal seria um repasse de aproximadamente R$ 10 bilhões por ano.
“Esse valor seria suficiente para que novos funcionários fossem contratados, que os salários desse pessoal fossem pagos e principalmente para custear a reabertura dos leitos fechados”, ressalta.
No Hospital de Clínicas da UFPR, por exemplo, a primeira parcela do Rehuf em 2010 foi utilizada para colocar as dívidas da instituição em dia. “Primeiro a gente fez essa correção das dificuldades financeiras para depois poder realizar outros investimentos”, diz a diretora da instituição, Heda Amarante. De acordo com ela, os recursos financeiros ainda estão aquém do necessário, já que os hospitais precisam incorporar novas tecnologias.
Salgado Filho também defende mais recursos para que os hospitais continuem se modernizando. “Muitos dos hospitais universitários federais são de alta complexidade e exigem materiais de qualidade para atender aos pacientes”.

Fonte: G.P

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Enfermeiros


Brasil tem déficit de enfermeiros

País empata com a Índia na segunda pior posição entre 40 nações industrializadas, com apenas 0,9 profissional para cada mil habitantes.

Quando o assunto é o investimento na formação de enfermeiros, o Brasil possui a segunda pior posição entre os países industrializados. Para cada mil habitantes, existe apenas 0,9 enfermeiro, taxa semelhante à da Índia, e à frente apenas do Chile. Isso é o que revela estudo elaborado pela Organização e Cooperação para o Desenvol­vimento Econômico (OECD na sigla em inglês) com 40 países, os 34 membros da instituição e seis emergentes.

A oferta de enfermeiros em relação à de médicos também coloca o país em último lugar na pesquisa, com 0,5 enfermeiro para cada médico, mesmo índice dos chilenos. A pesquisa, de 2009 e divulgada neste ano, leva em conta tanto os profissionais com graduação quanto aqueles que atuam como técnicos e auxiliares de enfermagem.

Para se ter um parâmetro, a Rússia, país com nível de desenvolvimento semelhante ao brasileiro, possui 8,1 enfermeiros por mil habitantes, e 1,9 enfermeiro para cada médico. Já a Índia e a China possuem índices um pouco acima, embora ainda baixos. No primeiro item, a campeã é a Islândia, com taxa de 15,3 enfermeiros por mil habitantes, e no segundo, a Irlanda, com 5 enfermeiros para cada médico.


Déficit preocupante

A pesquisa da OECD reflete um déficit conhecido das associações e conselhos que reúnem os profissionais de enfermagem no país. De acordo com a presidente da seção paranaense da Associação Brasileira de Enfermagem (Aben) e secretária de saúde de Carambeí, nos Campos Gerais, Carmen Moura Santos, o Brasil necessitaria de pelo menos 350 mil profissionais a mais.

A falta é mais sentida em cidades do interior e nas regiões Norte e Nordeste, onde muitas vezes não há enfermeiros 24 horas por dia nos hospitais, ou então um mesmo enfermeiro assume mais de uma equipe ou é responsável por mais de uma unidade básica de saúde, o que é proibido por lei. “A distribuição é muito desigual, e em alguns locais esse índice ,apresentado pela pesquisa, pode ser ainda menor, o que impacta na qualidade do serviço”, diz a enfermeira.

Pela lei, há diferenças entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Apenas o primeiro pode prescrever cuidados e é sempre o chefe da equipe, enquanto os demais podem executar os serviços, sempre sob a supervisão do enfermeiro. Cada equipe deve ter um enfermeiro, e deve haver sempre um profissional desta categoria à disposição 24 horas por dia.

Cuidados

A desigualdade na relação entre enfermeiros e médicos impacta negativamente na saúde, de acordo com o membro do Cons­elho Federal de Enfermagem (Cofen) Antônio Marcos Freire. “O médico é responsável pelo diagnóstico e por indicar o tratamento, mas é o enfermeiro que prescreve os cuidados e tem maior contato com o paciente. Logo, se estão em menor número, essa parte fica comprometida.”

Freire dá um exemplo que ilustra bem os problemas decorrentes dessa desproporcionalidade, que envolve a hora de dar à luz. Geralmente, cabe ao médico fazer o parto, mas é o enfermeiro o responsável por acompanhar a parturiente e ajudá-la com procedimentos que aliviem a dor, como massagens, mudanças na posição do leito e técnicas de respiração. Com o déficit, é comum que muitas não tenham esse acompanhamento.

“O enfermeiro pode ajudar a mulher nesse momento de ansiedade, ajudando-a a fazer a força necessária e a economizar energia. Em casos em que ela é orientada de forma incorreta ou nem é orientada, é comum que não tenha forças para empurrar o bebê e acabe sendo necessária uma cesária, aumentando os risco de morte materna”, diz Freire.

Preconceito é histórico

Historicamente, a Enfermagem sempre foi vista como um ofício menor se comparado com a Medicina, embora ambas tenham pa­­peis igualmente importantes na área de Saúde. “É uma questão de cultura. A Medicina é uma ciência mais antiga, e o status social do médico sempre foi maior do que o do enfermeiro. Isso começa a mudar, até porque é o enfermeiro que está 24 horas com o paciente, e as pessoas começam a valorizá-lo”, analisa a coordenadora do Curso de Enfermagem da Faculdade Evangélica, Amarilis Schia­von Paschoal.

Antônio Marcos Freire lembra que a Enfermagem também sofreu preconceitos por ser historicamente uma profissão feminina, já que o machismo quando essa ciência surgiu considerava inferiores os ofícios ligados ao gênero. Quando escolheu seguir a profissão, há 15 anos, ele sofreu resistência inclusive dos pais. “Havia a ideia de que a Medicina era para os homens e a Enfer­magem para as mulheres, pela noção de subserviência que havia entre as duas funções, da enfermeira servindo ao médico.” 

“As pessoas sempre reclamam por mais médicos, pois elas querem consulta, querem tratar, tomar remédios, mas o que faltam mesmo são mais enfermeiros, que focam principalmente nos cuidados e na qualidade de vida através da prevenção”, diz a presidente da Associação Brasileira de Enfermagem no Paraná, Carmen Moura Santos.

Valorização

Hospitais disputam os profissionais

Quem resolve seguir carreira na área de Enfermagem tem pela frente uma boa gama de opções quanto à área de atuação. Em relação aos estágios de formação, é possível optar pelos níveis médio e seguir a carrreira de auxiliar de enfermagem ou técnico em enfermagem. Ou, ainda, concluir o ensino superior e se formar enfermeiro profissional, chamado antigamente de enfermeiro de alto padrão.

“O auxiliar é reponsável por cuidar do paciente de menor complexidade, como aqueles que estão em enfermarias, apartamentos ou suítes. Os técnicos, que estão numa categoria acima dos auxiliares, podem cuidar dos que estão em UTIs ou pronto-socorros. Ambos são formados em escolas de enfermagem e têm formação téorica e prática”, explica a gerente de enfermagem do Hospital Evangélico, Ana Cláudia Giffhorn.

Em relação ao enfermeiro, que possui graduação em Enfermagem, é possível optar pelo cuidado direto com o paciente, em ambiente hospitalar, instituições de longa permanência (os antigos asilos) e empresas, ou então se especializar na área de administração (coordenando ou gerenciando equipes), de educação (dando aulas), pesquisa ou auditoria (uma espécie de avaliação sistemática do atendimento prestado).

Em muitos hospitais, de acordo com a enfermeira, o auxiliar ou técnico que opte pela graduação tem grandes chances de ser promovido. Esse profissional é muito valorizado, por iniciar a graduação, que proporciona o conhecimento científico, já com a experiência obtida no dia-a-dia.

Por causa do déficit de profissionais e da variedade de oportunidades, as instituições, em especial hospitais, costumam “competir” por profissionais, de acordo com Ana Cláudia. “A área é muito rica e sobram vagas. Isso permite que você deixe currículo em vários hospitais, que sofrem com essa falta. Isso permite escolher a melhor oferta em termos de condições de trabalho e salário.”

A gerente afirma, no entanto, que a remuneração ainda é um desafio e que, por isso, deve optar pela profissão quem realmente tem vocação. “Não se pode dizer que você irá ficar rico. O retorno é principalmente pessoal. Saber que você pode aliviar a dor de alguém e fazer diferente para cada paciente. Isso é algo muito emocionante.”

Curitiba reduz jornada para 30 horas

A partir de março, os enfermeiros que trabalham na rede municipal de saúde passarão a cumprir uma jornada de 30 horas semanais, uma reivindicação antiga da categoria e que atualmente é tema de projeto de lei no Congresso Nacional. Hoje, a jornada é de 40 horas. A redução foi aprovada em segundo turno pelos vereadores da capital no último dia 7, após protestos dos servidores.

A professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Ana Rotília Herzinger afirma que reduzir a jornada ajuda a diminuir a probabilidade de erros cometidos por causa do cansaço. Hoje, fala-se muito em “erro médico”, mas também é razoável o número de erros de enfermagem, até porque o profissional passa mais tempo com o paciente do que o médico.

“Mais tempo livre também possibilita aos enfermeiros mais disposição para investir na formação continuada e assim aumentar a renda. Isso contribui para que os enfermeiros invistam mais na área de cuidados diretos com o paciente, que hoje começa a perder espaço para a área de gestão, quando o enfermeiro realiza apenas atividades de administração.” (VP)

Velhice abre mais vagas

Num país com cada vez mais idosos, as oportunidades de trabalho para os enfermeiros se multiplicam. Os brasileiros com mais de 60 anos somam 19,5 milhões, mas devem chegar a 64 milhões em 2050, refletindo na oferta de postos de trabalho na área de cuidados domiciliares. Os filhos serão em menor número, o que exigirá alguém com conhecimento técnico para cuidar dessas pessoas em casa. Nesse momento entra em cena o enfermeiro.

A professora do Curso de Enfer­ma­gem da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e mestre em Educação Ana Rotilia Erzinger explica que o enfermeiro pode atuar tanto na prevenção de doenças quanto nos cuidados com o idoso mais debilitado. Mas não se deve confundir o trabalho de enfermeiro com o de cuidador de idosos. “So­mente o primeiro pode realizar procedimentos como manuseio de sondas e aplicação de injeções. O cuidador, geralmente um membro da família sem formação específica, é responsável por auxiliar o idoso em atividades da vida diária.”

A importância desse profissional em países que envelhecem é visível pela demanda de outras “nações idosas” que já recrutam enfermeiros no Brasil. Entre eles se sobressai o Canadá, onde 27% da população será idosa em 2030. A cidade de Quebec oferece curso de francês grátis e visto permanente para enfermeiros que queiram trabalhar por lá. 

fonte:G.P

Hospital Evangélico

Devolução de verba ameaça Evangélico

A suspeita de irregularidades na execução de um contrato da Sociedade Evangélica Beneficente com o Ministério do Turismo ameaça inviabilizar o funcionamento do Hospital Evangélico de Curitiba. A avaliação é do pastor Deimeval Borba, que assumiu a presidência da entidade há uma semana após o pedido de renúncia de Mauro Seraphim, ex-presidente da SEB. A sociedade, mantenedora da Faculdade e do Hospital Evangélico, corre o risco de ter de devolver R$ 3,1 milhões ao ministério por causa das supostas ilegalidades no convênio para qualificar no Paraná agentes turísticos para a Copa de 2014.
Relatórios do Tribunal de Contas da União e da Controladoria-Geral da União apontaram diversas irregularidades na execução do contrato. Os auditores encontraram indícios de sobrepreço, direcionamento de licitação, falhas no acompanhamento da execução do projeto e falta de comprovação da capacidade técnica da SEB para o treinamento de agentes turísticos. Tam­­bém há suspeita de fraude no cadastro da entidade no Sistema de Convênios  do Ministé­­­rio do Pla­­nejamento.
Diante da suspeita, o Turismo abriu uma tomada de contas especial e exigiu explicações da SEB. Caso as irregularidades apontadas pelo TCU e pela CGU sejam confirmadas, o convênio pode ser rescindido e a SEB ser obrigada a devolver os recursos à União.
“Isso pode inviabilizar o trabalho do hospital. São R$ 3 milhões. Hoje não temos esse dinheiro. A entidade sobrevive com repasse do SUS”, disse Borba. 

Obesidade

Obesidade em escolas públicas será tema de estudo
Um projeto do governo do estado pretende estudar a obesidade em alunos de 6 a 18 anos da rede pública a partir de março. A secretaria do Esporte vai realizar o projeto Prevenção e Controle da Obesidade Infanto-Juvenil, que terá duas fases e deve atingir toda a população escolar do estado, estimada em 2,1 milhões de pessoas até 2014.
Esse projeto faz parte do Programa Paraná Saudável, que vai reunir um conjunto de ações destinadas a melhorar a qualidade de vida dos paranaenses. A primeira fase do projeto deve atingir 14 mil alunos de 400 escolas estaduais e municipais em 96 cidades. Avaliadores vão coletar informações por meio da aplicação de um questionário aos alunos e familiares.
A partir dessa pesquisa, será traçado um plano de ação que deve alcançar resultados práticos. O projeto deve durar até 2014.

Planos de Saúde

STJ proíbe plano de limitar gastos

Os planos de saúde não podem estabelecer limite máximo de gastos com internações em hospitais nem prazo máximo de permanência do segurado, segundo decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os ministros da Quarta Turma do STJ entenderam, por unanimidade, que esse tipo de cláusula é abusiva. A decisão não vincula as demais instâncias da Justiça, mas abre precedente para situações semelhantes. A decisão tomada na semana passada foi tomada após a análise do recurso da família de uma mulher que ficou dois meses internada na UTI devido a um câncer de útero. No 15.º dia de internação, a seguradora queria suspender o pagamento alegando que havia sido atingido o limite do contrato de R$ 6.500.

Mortalidade materna

Mortalidade materna no Brasil cai 19%
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde indicam que o Brasil po­­de ter registrado em 2011 a maior redução em termos absolutos no índice de mortalidade materna des­­de 2002 – ano em que o país freou a acentuada melhora nesse indicador verificada nos anos 1990. O governo registrou 705 óbitos maternos no primeiro semestre de 2011 contra 870 no primeiro semestre de 2010, uma queda de 19%.
Dados preliminares indicam, segundo o ministério, que o país pode atingir em 2011 uma taxa pró­­xima a 63 mortes maternas pa­­ra cada 100 mil nascidos vivos, con­­tra 68 por 100 mil em 2010. O índice, se confirmado, significará a maior queda da taxa de mortalidade desde 2002.
Porém, mesmo se mantiver es­­se novo e acentuado patamar de queda nos próximos quatro anos, o país não vai cumprir a meta estabelecida pela ONU em 2000 nos Objetivos do Milênio, que é de chegar a 35 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos. A previsão do ministro da Saúde, Alexandre Pa­­dilha, é atingir esse índice em 2015.
A principal causa de morte materna continua sendo a hipertensão, seguida de hemorragia e infecção pós-parto, segundo os registros do Ministério da Saúde. Em 2010, foram contabilizadas 13,8 mortes maternas por hipertensão para cada 100 mil nascidos vivos. Em 1990, esse índice chegou a 40,6 por 100 mil.

INTOXICAÇÃO

Salsicha contaminada mata 2 pessoas
Duas pessoas morreram no Noroeste do Paraná após se­­rem intoxicadas pela bactéria causadora do botulismo. Ou­­tras duas estão doentes e há mais dez com sintomas da doença. A suspeita é que elas tenham consumido salsichas infectadas com o Clostridium botulinum. A Secretaria de Es­­tado da Saúde (Sesa) interditou todos os lotes da fabricante das salsichas na cidade de Alto Piquiri.
Em um dos casos confirmados da doença, um homem ficou 20 dias no hospital, 19 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Outra vítima comeu a salsicha in natura e morreu, enquanto a esposa e o filho comeram a salsicha frita e não sofreram nada”, contou o diretor da 12.ª Regional da Saúde, Arecídio Cassiano, reforçando a suspeita de que o alimento estava contaminado pela bactéria. “Muitas pessoas, sem saber, fritaram ou cozinharam a salsicha e podem ter matado a bactéria [antes da ingestão do alimento].”
O botulismo é causado pela ingestão de alimentos embutidos, enlatados e em conserva contaminados pela bactéria. Sem tratamento, 60% dos casos evoluem para a morte, que pode acontecer entre 12 horas e 10 dias após a ingestão do alimento contaminado.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

HPV

HPV, o inimigo íntimo

Nos homens, o HPV causa verrugas genitais. Nas mulheres, lesões podem virar câncer
Há 35 anos, o médico alemão Harald zur Hausen publicou sua hipótese de que a infecção pelo papilomavírus humano (HPV, do inglês human papillomavirus) causaria câncer de colo do útero. O tempo deu razão a Hausen, e também o Prêmio Nobel de Medicina, em 2008. O conjunto do trabalho é de grande relevância porque esse tipo de câncer é o segundo mais frequente entre as mulheres de todo o mundo e, entre as brasileiras, o quarto mais letal. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que anualmente morrem 4.800 vítimas e surgem 18.500 novos casos. Estudos mostram que partículas do vírus aparecem em mais de 90% dos registros da doença.
Transmitido sexualmente, ou em casos raros por meio de instrumentos sem esterilização adequada, como equipamentos ginecológicos, o papilomavírus é muito comum. Causa em geral verrugas genitais, tecnicamente chamadas condilomas acuminados, em ambos os sexos. Mas o perigo são as lesões sem sintomas que se desenvolvem nas mulheres, podendo progredir para o câncer de colo uterino caso não sejam tratadas precocemente.
Segundo o Inca, cerca de 25% das brasileiras estão infectadas com algum tipo de HPV. As mais suscetíveis são as mais jovens, que iniciam a vida sexual cada vez mais cedo, e aquelas na pós-menopausa. Cerca de 80% das mulheres serão infectadas pelo menos uma vez ao longo da vida. Estima-se que em todo o mundo 291 milhões delas carregam algum dos mais de 100 subtipos do vírus e 32% têm os de número 16 ou 18, os que produzem as lesões com potencial cancerígeno , ou ambos.
“A possibilidade de regressão dessas lesões é maior que 50%. Ainda não é possível saber, porém, em que casos haverá cura espontânea ou evolução para um tumor maligno”, afirma Mauro Romero Leal Passos, professor de Medicina da Universidade Federal Fluminense, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis e autor do livro HPV, Que Bicho É Esse? “Sabemos que o risco de evolução é maior entre as fumantes, as portadoras de outras infecções no colo do útero, como herpes e clamídia, e do HIV, ou as geneticamente predispostas à malignidade.”
Como estratégia de prevenção, o Ministério da Saúde recomenda rastrear prioritariamente mulheres de 25 a 60 anos, por meio do exame conhecido como papanicolau. Os dois primeiros exames a cada três anos e os seguintes a cada dois. 
Conforme aponta o Plano de Ação para Redução da Incidência e Mortalidade por Câncer do Colo do Útero, do Inca, a oferta de exames pelo SUS seria suficiente para a cobertura necessária desde que não fossem realizados repetidamente, em intervalos menores, o que restringe a cobertura. Além disso, em muitos laboratórios há falhas na coleta e no estudo das amostras ao microscópio. Isso leva ao chamado falso-negativo – quando o teste não revela a doença existente. A intensidade desse problema varia conforme a região. Segundo a Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp), em Fortaleza, por exemplo, é impossível fazer o diagnóstico em 13% das amostras. Em outras localidades, pode chegar a 50%.
Há no Brasil, desde 2002, diretrizes para o atendimento de mulheres com exames alterados. A recomendação é tratar as lesões de alto risco em unidades ambulatoriais, mas isso não é seguido, conforme o documento do Inca. O encaminhamento desnecessário para hospitais pode comprometer o acompanhamento de mulheres com alterações que requeiram maior atenção. E, uma vez prejudicado o rastreamento, eventuais complicações correm o risco de ser detectadas tardiamente.


Novas vacinas

Preocupada com isso, a secretária Samara Regina Rodrigues Bettoni, 32 anos, de Itajubá (MG), vive aconselhando todas as mulheres conhecidas, inclusive as mais jovens, a não faltar às consultas rotineiras com o ginecologista e a fazer exames preventivos. No final de 2009, ela recebeu o diagnóstico de câncer de colo uterino. Em menos de um ano foi submetida a três grandes cirurgias, em que foram retirados o útero e as trompas. Hoje está curada, mas é acompanhada periodicamente no Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Aos 18 anos, Samara contraiu HPV, se tratou, mas admite ter sido negligente nos últimos anos. “Colocava as preocupações com meu filho, o marido e o trabalho em primeiro lugar e deixava a saúde de lado”, conta.
Pouco se sabe sobre a contaminação na população masculina, embora comecem a surgir indícios de aumento dos casos de câncer de boca e de orofaringe (região atrás da língua, amígdalas e palato, o céu da boca) causados pelo HPV. “O homem é um vetor importante. Tem muita infecção para transmitir e manifesta pouca doença”, afirma Elsa Gay de Pereyra, ginecologista do Hospital das Clínicas de São Paulo. Também é pouco conhecido o comportamento desses vírus entre os homens.
Mas os médicos desconfiam que a resposta esteja na própria anatomia. Enquanto o órgão genital masculino é exposto e recoberto por pele, que o protege, o da mulher é interno. E o colo do útero é formado por tecidos mais suscetíveis a contaminação. Apesar de não evitar totalmente o contágio, o homem pode ter lesões no púbis ou nos testículos, a camisinha reduz significativamente os riscos. Por isso é recomendada em qualquer tipo de relação sexual, mesmo entre casais estáveis.
A especialista do HC defende a vacinação dos homens contra o vírus. Segundo Elsa, na Austrália houve redução da contaminação feminina com a adoção dessa medida preventiva. No Brasil, a Anvisa acaba de aprovar a vacina para homens de 9 a 26 anos. Até então, estava liberada apenas para a população feminina nessa faixa etária. A imunização não está disponível no sistema público de saúde, apenas em clínicas particulares. Há a bivalente, contra os subtipos 16 e 18; e a quadrivalente, contra os subtipos 6 e 11, causadores das verrugas.
Ambas são igualmente eficazes. Mas ainda não se sabe qual a duração da proteção. Por isso a vacinação não exclui a necessidade de rastreamento. Segundo especialistas, seu impacto na redução da incidência do câncer de colo do útero e na mortalidade por ele só será visível daqui 30 ou 40 anos. Em dez anos, porém, poderão ser percebidos efeitos da ampliação e qualificação do rastreamento e tratamento das lesões. 


O câncer   pênis 

Cerca de mil brasileiros têm o pênis amputado devido a câncer, por ano no Brasil.



O câncer que atinge o pênis está muito ligado às condições de higiene íntima do indivíduo, sendo o estreitamento do prepúcio (fimose) um fator predisponente. 

Outro fator de risco é a prática sexual com diferentes parceiros sem o uso de camisinha.


De acordo com o médico, um dos fatores que predispõem ao câncer de pênis é o HPV, entre 30 e 50% dos casos, um vírus transmitido em relações sexuais. Por isso é importante também estar atento à presença do HPV, que muitas vezes se manifesta como uma pequena verruga e que é contagiosa.
São poucas, quase inexistentes, as campanhas dirigidas ao sexo masculino, resumindo-se quase sempre à próstata.
Ocorre ainda como agravante o desconhecimento pela população da ocorrência desse tipo de câncer.
As políticas públicas de educação e prevenção não dão ênfase a este tipo de doença.
Quando detectado em estágio inicial o câncer de pênis é curável sem precisar amputar, no entanto, o tempo transcorrido entre o início dos sinais e sintomas e a procura pelo profissional de saúde é postergado, tendo causas multifatorias como as questões sócio-culturais, vergonha, desinteresse, culpa, medo, ou mesmo o desconhecimento da gravidade da doença pelo paciente.
O número foi divulgado recentemente pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)

Câncer de boca
Em uma década, dispararam no país os casos de câncer de boca e orofaringe relacionados à infecção por HPV (papilomavírus humano), transmitidos por sexo oral.

Não há um aumento do número total de casos, mas sim uma mudança no perfil da doença.

Antes, cânceres de boca e da orofaringe (região atrás da língua, o palato e as amígdalas) afetavam homens acima de 50 anos, tabagistas e/ou alcoólatras.

Hoje, atingem os mais jovens (entre 30 e 45 anos), que não fumam e nem bebem em excesso, mas praticam sexo oral desprotegido.
Uma recente análise publicada no periódico "International Journal of Epidemiology" mostra que, quanto maior o número de parceiras com as quais pratica sexo oral e quanto mais precoce for o início da vida sexual, mais risco o homem terá de desenvolver câncer causado pelo HPV.

"O HPV está criando um novo grupo de pacientes. Por isso, é preciso reforçar a necessidade de fazer sexo oral com preservativo." O Inca estima que, por ano, o país registre 14 mil novos casos de câncer de boca.

Segundo os especialistas, a boa notícia é que os tumores de orofaringe relacionados ao HPV têm um melhor prognóstico em relação àqueles provocados pelo fumo.

Paulo Kowalski afirma que eles respondem melhor à quimioterapia e à radioterapia e, muitas vezes, não há necessidade de cirurgia.